sexta-feira, maio 16, 2003

ECLIPSE

A lua mais linda do ano apareceu as cinco e meia da tarde. E durante o resto do dia, uma sensação profunda de angústia tomou sua alma. Sem saber onde parar, volta pra casa. Aquela volta pra casa foi rápida. Não haviam semáforos, não haviam carros. Lá, debaixo do prédio, encontra o amigo que, também melancólico, buscava por ajuda. Hoje em dia todos buscamos por ajuda. E viu seu vazio projetado no amigo, e lembrou de outro amigo, e mais uma amiga. E reparou que todos pareciam sofre do mesmo mal, da mesma tristeza.

"Hoje tem eclipse" disse o amigo para ele. O celular toca, o barão chama. Está na cinco e pede uma carona, esmola atenção. Os três buscam o barão e rumam para a oito. Lá tem uma praça, onde tudo é limpeza. Duas bombas são armadas. Dentre conversas tolas, um gesto desconfortável. Eles não queriam estar lá. Nenhum deles. As bombas estão acessas, as baforadas começam. Da escuridão que vem do lado da gangorra, aparece ela. Sozinha, de poucos gestos, de poucas palavras. Apenas queria compartilhar daquela fuga, daquele falso prazer. Compartilhar a solidão. Durante todo o tempo, apenas uma pergunta: "vcs vão ver o eclipse hj?". A resposta foi afirmativa, o lugar escolhido foi o lago. Mais uma vez o celular toca, era uma amiga. Em busca de companhia para aquele início de noite fria. Sem nuvens. E a Lua? Que Lua era aquela? Lua de Lual, e aquilo o deixou mal.

Os quatro partem, a menina solitária fica. Quanto desânimo, quanto absurdo o coração do homem pode aguentar? Abastecem o carro e rumam para o lago. As mesmas conversas, as mesmas histórias. Alguns risos, nada especial. A verdade que os unia era outra. Não era a bomba, não era a amizade. Era o vazio. Um vazio sem igual, que foi sentido por todos naquela noite de eclipse. O frio começava a crescer, e as horas passavam devagar. A Lua lá em cima era a única testemunha lúcida do espetáculo que estava para acontecer. Eles se cansam da espera. Perceberam que naquela noite, não haveria milagre, não haveria um herói para salvá-los. Na retorno para casa, ele volta a observar a Lua. As pessoas estão na rua. Desafiam o frio para assistir o show. Ele olha para cima e vê, naquela imensidão de estrelas, uma lua que sumia. Sentiu vontade de chorar. Viu naquele momento, quão pequeno era. Quão vã sua vida era diante daquilo tudo. Olhou pro lado, e começou a observar as pessoas que se juntavam para ver o espetáculo. E viu a absurdo da vida. Sentou na calçada, acendeu mais um cigarro. Assistiu o eclipse por mais alguns minutos e foi para casa. Deixou os amigos-tristes, a platéia-triste, a menina-triste. Deitado em sua cama, pediu que os demônios se fossem e taciturno adormeceu para sempre.

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